Vivendo no Invisível


"A Marca da Besta" pelo espírito Ângelo Inácio, autor Robson Pinheiro. Neste terceiro volume da trilogia "O Reino das Sombras", os espíritos de personagens como Júlio Verne, Dante Alighieri, William Voltz (um dos escritores da série de livros Perry Rhodan) e o médico e físico alemão Joseph Gleber também participam ativamente da história.

Parte do primeiro capítulo do livro:

... Após breve pausa, Júlio Verne continuou, falando agora a respeito de seu outro médium, não espírita.
— Veja o caso de Voltz, por exemplo. É um excelente escritor, que, quando encarnado, não teve noções de doutrina espírita; portanto, evidentemente não se utilizava do vocabulário espírita. Associei-me mentalmente a ele na produção literária em seu país sem que ao menos se desse conta do processo mediúnico em andamento. Ele escrevia com extrema facilidade e captava meus pensamentos.
— Mas, então, qual era o objetivo de uma parceria assim?
— É claro que estou prestes a expressar um ponto de vista com o qual muitos espíritas não concordariam. Mas fato é que a realidade de Voltz é análoga à de inúmeros autores que, na atualidade, são considerados escritores de ficção, de fantasia. Faz-se necessário abordar certas verdades fora do âmbito espírita, atingindo alvos distintos daqueles que estão na mira dos escritores do meio espiritualista. Os Imortais que nos dirigem de mais amplas dimensões nos incumbiram de escrever numa linguagem apropriada a certo universo literário — digamos, mais materialista —, que atraísse também determinado círculo de indivíduos que não têm acesso ao vocabulário e à mensagem espírita ou, simplesmente, não sintonizam com a forma religiosa de ver alguns problemas da vida.
— Entendo... — balbuciei, já com a mente em ebulição. — Quer dizer que os dirigentes espirituais resolveram falar de algumas verdades numa linguagem romanceada ou literária sem se utilizar de um vocabulário propriamente espírita?
— Isso mesmo. Assim, deveríamos atingir um público diferente, de maneira distinta, pouco usual entre os religiosos. Usariam da intuição e de certas habilidades de alguns escritores da Terra, de forma a transmitir conceitos e ideias, revendo conteúdos ou paradigmas bastante difundidos. Interferindo na conversa e na fala de Júlio Verne, Voltz complementou:
— Minha linguagem apresentava característica mais científica, no entanto não ignorava a necessidade de trabalhar com meu público alguns conceitos muito necessários para o despertar de uma nova consciência. Na época, não podia imaginar que estava sendo usado por um espírito...
Somente bem mais tarde, nos últimos anos da existência física, ao ser diagnosticado com câncer, é que me dei conta de que havia uma força sobrehumana agindo sobre mim. Porém, à minha volta não havia quem pudesse ouvir meus pensamentos mais íntimos, com quem eu pudesse dividir aquelas impressões.
— Nessa época, trabalhei ainda mais intensamente com Voltz — tornou a falar Júlio Verne.
— Em parceria mental e emocional, logramos desenvolver mais de 800 sinopses de livros, resumos de uma história que seria considerada ficção, mas que, no fundo, trazia o germe de uma nova mentalidade para os leitores. Aliás, foram mais de 1 milhão de leitores, cujas mentes foram trabalhadas através dos escritos de Voltz, sem que ele próprio suspeitasse, em grande parte do tempo, que estava sendo médium ao elaborar seus enredos e personagens e produzir seus textos.
— E quais ideias eram trabalhadas através de seus escritos, já que eram considerados obra de ficção?
— Pois bem — explicou Voltz. — Na verdade, percebo hoje com mais clareza, movia-me uma aspiração que me impelia a trabalhar na mente dos leitores ideias de fraternidade, do mundo futuro unido em torno do objetivo comum de evolução da humanidade. Em minha obra parti de animais conhecidos na Terra e criei seres, geralmente baseados em criaturas terrestres e marinhas, como meio de descrever possíveis habitantes de outros mundos. "Na época, sem saber que era conduzido por mãos e pensamentos dos seres invisíveis, descrevi, numa história épica, de maneira romanceada, a saga da humanidade ao entrar em contato com seres intergalácticos. Imaginei aquele mundo fantástico por minha conta, como acreditava na ocasião, de modo a incutir certos conceitos e tratar de temas como o convívio com as diferenças e com seres diferentes. O entrechoque de civilizações espaciais suscitaria o despertamento do conhecimento humano em sua melhor acepção, que se pode chamar de espiritual, ao mesmo tempo proporcionando e exigindo mudança por parte dos habitantes da Terra. Um aspecto interessante é que os personagens gozavam de faculdades psíquicas extraordinárias, que empregavam no auxílio à humanidade. É claro que não os descrevi como médiuns; entretanto, qualquer um que meditasse um pouco mais poderia ver que seus atributos pressagiavam o momento na história em que os homens conviveriam normalmente com o invisível, com faculdades paranormais e mediúnicas. Foi a maneira que escolhi, ou melhor, que os espíritos escolheram, sem que eu o soubesse, para enfocar certas verdades através de meus escritos."
— Ou seja, você era médium sem saber sequer 0 que era um médium...
Rimo-nos da situação curiosa de Voltz. Eu, particularmente, refleti bastante sobre quantos profissionais — roteiristas e escritores de ficção científica, romances e tantos outros estilos literários, assim como artistas de modo geral — eram usados como médiuns, sem o saberem. Sobretudo tendo-se em vista que muitos médiuns espíritas, ou que se declaram espíritas, ainda não estavam preparados para levar uma mensagem mais universal, ou ao menos numa linguagem universal, mais abrangente, àqueles que jamais ouviram falar de espiritismo e, às vezes, nem sequer apreciam a prática religiosa. Gomo essas pessoas tomariam contato com conceitos de espiritualidade, com certas verdades universais e extremai mente importantes à mudança de paradigmas a que os tempos atuais têm incitado? Gomo receberiam notícias acerca da realidade da vida extrafísica se os autores encarnados e mesmo os desencarnados ficassem restritos à linguagem e ao âmbito religiosos? Nem sei como seriam atingidas as mentes da maioria absoluta de indivíduos ao redor do globo, que nunca escutaram a palavra espiritismo. Talvez, os Imortais estivessem trabalhando com outros médiuns, fora do âmbito espiritualista, a fim de preparar o mundo para a transformação em larga escala que tem se operado e, em breve, deve realizar-se ainda com maior intensidade. Absorto nesses pensamentos, quase nem percebi quando Ranieri se manifestou:
— Quando o reverendo Vale Owen escreveu seu livro mediúnico relatando a vida numa colónia espiritual —A vida além do véu —, muita gente pensou que estava delirando. Décadas mais tarde, quando Chico Xavier publicou Nosso lar,s muitos espíritas ortodoxos imaginaram que ele estava copiando ou plagiando a ideia de Vale Owen. Mas, como pode notar, meu caro Angelo, Deus suscita seus médiuns em todo lugar e fala de verdades imortais com o vocabulário apropriado ao tipo de público que deseja atingir. Diante de tudo que era exposto pelos autores do Além — Júlio Verne, R. A. Ranieri e W. Voltz —, fiquei imaginando coisas, situações e fiz minhas deduções a partir daí. Estes foram meus pensamentos naquela ocasião. Que seria a verdade científica ou a verdade mediúnica, em seus estudos e abordagens? Verdade ou ficção? E onde começa e termina cada uma? Até que ponto a ficção não encobriria uma realidade além-física? Na ocasião em que Júlio Verne escreveu a respeito de uma viagem imaginária à Lua ou ao centro da Terra, e outras do género, foi duramente criticado, pois que essas coisas soavam impossíveis; verdadeiro delírio para os padrões da época. Quando Galileu insistiu em sua teoria de que a Terra girava em torno do Sol — e não o contrário —, foi severamente repreendido e levado aos tribunais por aqueles que se julgavam únicos detentores da verdade e da religião daqueles tempos, sendo forçado a abjurar suas convicções. Já pensou no que enfrentou Alexander Fleming ao descobrir a penicilina e ter de enfrentar os médicos, os cientistas da época que não aceitavam nem acreditavam na sua eficácia? Suas teorias eram ficção ou realidade? Ranieri pareceu captar meus pensamentos mais profundos e acrescentou, como a pôr lenha na fogueira de minhas conjecturas:
— Quando foi apresentada ao mundo a possibilidade de falar através dos continentes usando o equipamento chamado telégrafo, muita gente não acreditou e até os cientistas declararam ser impossível. Você já pensou em como reagiram aqueles que viveram na época em que foi concebida e lançada a primeira televisão?
— Fatos como esses — acrescentou Verne — levam-nos a cogitar se a ficção científica, em suas mais variadas abordagens, bem como os filmes com enredos que sugerem uma realidade alternativa ou espiritual, constituem mera ficção ou se, na verdade, traduzem a percepção de uma realidade que a maioria ainda desconhece. "As séries televisivas ficcionais, a literatura não espírita e outras produções seriam tão destituídas de elementos reais e palpáveis, a ponto de não merecer crédito? E as revelações espíritas ou mediúnicas não ortodoxas, seriam simplesmente delírio dos médiuns? Quanto à produção de certos espíritos, seriam apenas plágio de alguém que descreveu, antes, a mesma realidade? Ou uma forma diferente de falar a mesma coisa?" Meus pensamentos viajavam na análise de certos contornos da experiência mediúnica. Ranieri voltou a falar:
— Quando os espíritos, através de Chlco Xavier, descreveram uma cidade no plano espiritual, os espíritas mais ortodoxos ficaram boquiabertos. André Luiz chegou a escrever sobre alimentação no mundo dos espíritos, sobre contrabando em Nosso Lar, bem como a respeito do uso de armas elétricas e de equipamentos de rádio destinados à comunicação dos espíritos. À época, soou como
uma obra fantasiosa; hoje, ocupa posição oposta: plenamente aceita pelo meio espírita, é referência para análise de qualquer novo texto psicografado. Senti como se aqueles espíritos estivessem falando para mim, Angelo Inácio, pois os pensamentos introduzidos por suas observações suscitavam mil e uma ideias em minha cabeça. Neste momento, antevi uma forma de trabalhar em parceria com os novos amigos, que estavam ao meu lado. E as reflexões não paravam aí...
Júlio Verne interferiu em minhas elucubrações, de maneira a fazer calmaria em meio à tempestade intelectual que assolava minha mente.
— Quero analisar por um instante o trabalho que o aguarda, Angelo. Algumas de suas abordagens trarão conteúdos muito semelhantes — quase iguais, na realidade, tamanha similitude entre si — aos de alguns livros editados, principalmente aqueles dos quais fui autor ou inspirador. Refiro-me às obras de Voltz e de Ranieri. É que almejamos falar das mesmas verdades, agora num vocabulário mais espírita ou que seja compreendido entre espíritas também, muito embora sem que outras pessoas se sintam agredidas por uma linguagem religiosa, sectarista. Nosso trabalho em conjunto ou parceria não representará nenhuma inovação, em termos espirituais. Quem ler Eliphas Lévi, por exemplo, verá teorias interessantes a respeito da magia e alta magia. Ramatis, em Magia de redenção,'1 aborda verdades antes combatidas pelos espíritas, mas que agora você poderá analisar sob novo prisma. Nada é exatamente novo naquilo que pretendemos transmitir. "Voltz, por sua vez, lhe oferecerá as imagens mentais daquilo que ele percebeu e presenciou na esfera extrafísica, facilitando assim, através das matrizes do seu pensamento, a descrição das mesmas paisagens, as quais você visitará em momento oportuno. Apenas queremos que associe nossos pensamentos às ideias espíritas, a fim de que, uma vez amadurecidas, as mentes que lerem seus textos possam ter uma noção mais exata daquilo que antes já falávamos, porém com vocabulário apropriado ao contexto em que escrevemos. E hora de traduzir nossos pensamentos para a época e o público atuais."
Desta vez foi Voltz quem comentou, talvez em alusão à sua própria experiência, quando encarnado:
— Muitos escritores da chamada ficção histórica, da ficção científica e da futurâmica espacial penetraram na realidade do espírito através da intuição e trouxeram elementos preciosos para o enriquecimento do pensamento espiritual. Ou seja, alguns autores vivenciaram certas experiências através de sonhos, desdobramentos e êxtase e, após essas vivências fora do corpo ou em estado alterado de consciência, interpretaram e colocaram no papel o resultado de suas observações.
— Falo agora baseado em minhas próprias experiências — disse Júlio Verne. — Escritores de toda parte captam de outras dimensões da vida determinada realidade, algo muito concreto e de existência objetiva. Ao retornarem ao corpo físico, traduzem essa mesma realidade de acordo com o seu objetivo imediato ou sua forma natural de ver a vida e o mundo que os cerca. Frequentemente, essa interpretação figura um tanto fantasiosa, à primeira vista, para depois se converter em algo teoricamente possível, que, de modo subsequente, ganha ares de coisa palpável, coerente, de existência comprovadamente reconhecida. Quando descrevi a viagem à Lua ou ao centro da Terra, por exemplo, não me referia ao mero domínio do fantástico, mas a eventos que presenciei desdobrado, na época, antevendo o futuro da humanidade. Parte deles sucederia na esfera física; outra parcela, nos planos da imortalidade. A linguagem utilizada era a forma que escolhi, ou melhor, que escolheram para mim, culminando naquilo que se convencionou chamar ficção científica de Verne. E, assim como me vali de Ranieri e Voltz, cada um em sua área e seu círculo de ação, a fim de dar vazão a minha inspiração e meus pensamentos, também eu recebia o estímulo direto de Dante Alighieri, que me impulsionava a escrever sem que eu o soubesse, dirigindo-me, em espírito, durante minhas incursões pelas esferas do mundo extrafísico. Júlio Verne abordava um assunto muito interessante e que mexia muito comigo, diante do trabalho a serviço dos Imortais, proposto por Anton. Teríamos muito a realizar em conjunto, sem dúvida. Antes que eu pudesse concluir meu raciocínio, porém, foi Anton quem interferiu, de volta à conversa, como que antecipando algumas questões, ambientes e fatos que certamente objetivava que eu visualizasse, visitasse ou presenciasse, no momento adequado.
— Há algum tempo, os clones eram considerados ficção. Hoje, já se percebe a possibilidade de realizar a clonagem humana. Isso, considerandose apenas o que se revela ao público leigo, a quem se destinam as migalhas da verdade que a mídia faz escapar. Mas que está ocorrendo realmente no interior dos laboratórios ao redor do mundo? Será que a clonagem humana já não foi experimentada? E quanto à possibilidade de haver vida fora da Terra: serão os milhares de relatos pelo mundo afora, mencionando aparições, abduções e outros fenómenos ufológicos, tão somente fruto da imaginação de alguns? Quem pode atestar com absoluta certeza, a não ser os espíritos superiores, que alguns governos não possuem naves e até seres capturados em eventuais acidentes com essas mesmas naves ou UFOS? Realidade ou ficção? Ou uma ficção que encobre a realidade? Sem dar tempo para que me recuperasse das indagações e dos raciocínios motivados por suas palavras, Anton foi o porta-voz dos demais, que ali se reuniam em conversa entre amigos espirituais:
— Portanto, retomando a discussão a respeito do aspecto ficcional de livros e filmes, é preciso dizer que, muitas vezes, os espíritos intencionalmente lançam mão de certos artifícios através de médiuns-escritores ou de médiuns-artistas que não possuem vínculo ou comprometimento com qualquer doutrina. Isso ocorre pelo simples fato de estarem isentos do patrulhamento e da rejeição imediata daqueles seus pares que se julgam soberanos defensores da verdade. Canalizadas por meio da inspiração de escritores, autores, roteiristas e tantos outros, pouco a pouco tais obras cumprem sua tarefa junto à multidão, abrindo caminho para que, mais tarde, a realidade última seja descortinada através dos canais ortodoxos. Aí, sim, essa verdade relativa, mesclada com o toque pessoal, artístico e imaginativo do escritor-médium, encontra a realidade final, despida dos elementos ficcionais e das interpretações pessoais. Quando as ideias em torno de determinada questão tornam-se mais difundidas e aceitas, então o Plano Superior estabelece que seus pormenores se reconfigurem, deixando de lado os atrativos da linguagem figurada e de outros recursos da construção literária e artística, visando assumir feição mais verossímil ou verdadeira. Comecei a compreender melhor minha tarefa junto ao médium, assim como a tarefa que o aguardava a partir dali. Era chegada a hora de esses escritores, fantasmas para o mundo, despirem sua linguagem dos artifícios do fantástico e do ficcional de que se valeram e, assim, reelaborarem conceitos, ideias e descrições daquilo que haviam presenciado noutra época, quando não conheciam o pensamento espírita ou não puderam ser claros o suficiente. Desejavam contribuir para a evolução do pensamento humano e, por isso, seriam aproveitados pelos dirigentes espirituais na tarefa que os esperava. Agora, sim, Anton proporcionou-me um momento de refazimento intelectual, diante da tempestade de ideias que havia sido despertada em mim. Assim é que percebi o chamado ao trabalho como uma incumbência de seres comprometidos, sobretudo, com a verdade universal. Minha atividade junto ao médium objetivava desbravar, ou melhor, descortinar horizontes novos ou inusitados, que pudessem compor o quadro das experiências espirituais de muitos companheiros encarnados. Não com a missão de trazer fatos rigorosamente verdadeiros, no sentido de que estivessem ipsis litteris de acordo com cada pormenor da realidade, mas que sejam verossímeis, acima de tudo. Ou seja: a verossimilhança do quadro pintado nortearia o trabalho, sobrepondo-se à precisão minuciosa do enredo ou da descrição, o que, de mais a mais, soava como preciosismo descabido. Ao escrever, seria lícito lançar mão de figuras de linguagem, de estilos diferentes, de adaptações, entrevistas, vivências pessoais, experiências que ainda não haviam sido relatadas pelos próprios autores de ficção, mas verdadeiras em seu fundo. Envolta em tudo isso, transpareceria uma verdade maior; a essência de tudo: a realidade espiritual. Conclui que diversas nuances poderiam ser transmitidas empregando-se recursos de linguagem a fim de descrever o panorama extrafísico. É difícil prescindir completamente dessés elementos. Em outras palavras: parábolas e figuras narrativas eram artifícios válidos, embora fosse necessário erradicar elementos do universo estritamente fantástico, ficcional. Ao mesmo tempo, atuando como farol e mecanismo regulador, estaria o conteúdo espiritual, ético e moral, que necessariamente sobressairia do texto, de forma verossímil. Desta vez, foi outro espírito, que nos observava e tinha escapado à minha percepção, quem introduziu seu pensamento, como a me socorrer com suas observações:
— Veremos esses mesmos elementos de linguagem presentes na própria mensagem de Jesus — declarou o espírito, denotando que sabia exatamente o que eu pensava. — Ele pinta um quadro fantástico do fim do mundo e do breve retorno do Filho do homem. Os fatos se sucederam da forma exata tal qual relatou? E, em razão disso, sua mensagem perdeu ou teve diminuída sua credibilidade?
Alguém viu o Filho do homem vir nas nuvens com poder e glória? Quem registrou a corte angélica que Jesus descreveu, juntando os escolhidos de um canto a outro do mundo? Aqueles foram mecanismos usados por Jesus para ilustrar uma verdade mais ampla, mais interna. Eis bons exemplos de figuras de linguagem do Evangelho, cujo objetivo nada mais é que transmitir uma mensagem e mostrar determinada realidade ainda oculta ou obscura ao pleno entendimento. Caso nos reportemos ao último livro da Bíblia, o Apocalipse de João, aí é que proliferam ilustrações, símbolos e figuras que alcançam níveis dignos da mais pura fantasia — diria o leitor apressado ou não familiarizado com a exegese bíblica e a hermenêutica. O próprio cristão da atualidade costuma ver no livro profético o mais impenetrável do Novo Testamento. Abem da verdade, são recursos empregados pelo apóstolo com o intuito de ilustrar a história do mundo e enunciar a intervenção do Alto na política humana. Parece que os benfeitores queriam me levar a assumir o compromisso com a tarefa que me aguardava junto ao médium sem qualquer objeção nem constrangimento, entretanto com a visão clara a respeito dos recursos com os quais deveria contar. As experiências que a princípio seriam apresentadas ao médium que me serviria de instrumento, já relatadas em alguns livros, poderiam até mesmo ser rejeitadas por ele, nos primeiros momentos do transe mediúnico. Por isso, aproveitaria sua inclinação natural para aceitar o pensamento do codificador do espiritismo e, em parceria com outros espíritos, abordaria os temas propostos sob uma ótica verossímil, embora ainda não contemplada em toda a extensão segundo se delinearia na psicografia. A título de exemplo, examinemos o livro anterior desta trilogia O reino das sombras, intitulado Senhores da escuridão, que seria escrito anos mais tarde, ao longo de 3008. Deve-se notar que alguns textos que compõem certos capítulos já haviam sido escritos anteriormente, em outras obras, como é o caso dos capítulos 8 e 9, respectivamente: "Sob o signo do mal" e "Escravo da agonia". Seu conteúdo já fora percebido, captado e interpretado pelo próprio W. Voltz, no mesmo período histórico em que ocorreram os fatos relatados. Por esse motivo, tais capítulos — como a totalidade dos próprios livros, em última análise — não representam nada de novo. Não obstante, o escritor não dispunha dos elementos do conhecimento espírita para elaborar as conexões de tudo quanto percebeu com a vida espiritual. É por esse motivo que, ao perceber a realidade extrafísica com que se deparou, deu asas à sua interpretação brilhante acerca de assuntos tão palpáveis e instigantes. Embora com personagens diferentes, com implicações éticas menos abrangentes e com nuances da trama totalmente engenhosas, sob o ponto de vista estilístico, nota-se que a verdade captada é a mesma. Minha contribuição? Seria exatamente revelar o lado espírita da situação, dos fenómenos, do enredo, revisitando paisagens e personagens sob a orientação de Anton e seus especialistas, como Júlio Verne fez com seu pupilo, à época. Assim como outro amigo espiritual pretende, muito em breve, escrever a versão e a visão espírita de obras como Garandiru, Matrix e Cidade de Deus. Será que suas iniciativas serão classificadas como plágio de produções tão respeitadas e de grandeza sobejamente reconhecida, sob o aspecto estilístico e narrativo? Ou serão esses futuros trabalhos considerados ficção, apenas porque não trazem o estilo de obras mediúnicas consagradas? Seja como for, o contato com este grupo de espíritos que se propõe ao trabalho conjunto, à parceria espiritual, ensinou-me a aguardar o futuro, sem pressa, com cautela ao me adiantar combatendo ideias, trabalhos e verdades levadas a público de maneira diferente daquela que aprendi. E, como o espírito que se manifestou por último queria guardar sua identidade, conservei-o no anonimato, embora parecesse muitíssimo comprometido com as ideias espíritas, conforme suas palavras seguintes sugeriam.
— Muitos sensitivos, em todo o Brasil, têm tido experiências mediúnicas que comprovam a universalidade dos ensinos transmitidos de uma a outra latitude do planeta. Será que essa universalidade só é possível dentro dos limites ortodoxos do movimento espírita ou as inteligências imortais realmente se comunicam e se utilizam de intérpretes os mais diversos, espíritas ou não: escritores-médiuns, médiuns-autores, médiunsterapeutas, médiuns-cientistas, que não pertençam exatamente ao corpo de representantes da filosofia espírita? "Meditemos com efeito sobre essa realidade que supera a fantasia, a imaginação e a ficção, mas não descartemos a possibilidade de que os espíritos do Senhor não encontram barreiras para se manifestar; que grande parte do que hoje é rejeitado pelos renomados estudiosos da mediunidade e dos fenómenos espíritas pode estar recheado de mensagens e verdades, que os médiuns missionários do movimento não aceitariam psicografar. "Antes de se aventurar a fechar questão, declarando terminantemente: 'Isso não existe!', talvez seja indicado refletir sobre o desenvolvimento dos conceitos espíritas, que apresentam clara progressão desde as primeiras mensagens a Kardec, em 1855 -- de resto' como ocorre com tudo o mais. Além disso, há que levar em conta a possibilidade de se haver interpretado por um viés limitado ou específico algo dotado de implicações mais amplas, que escaparam ao momento da análise." As palavras do elevado espírito encerraram as observações levadas a efeito, e com chave de ouro. Quanto a mim, teria muito que me preparar, a partir daquele encontro. Tudo o mais estava condicionado à forma como o médium reagiria e se comportaria diante das mensagens que receberia de nós. Restava apenas aguardar para ver os resultados. Júlio Verne, Voltz, Ranieri e alguns benfeitores, como Pai João, Anton, Jamar e outros mais, que comporiam a equipe espiritual responsável, mostravam-se satisfeitos com os rumos que tomava o projeto. Cumpríamos um mandato provindo de dimensões mais altas; não havia como recusar...

SINOPSE:
Espíritos milenares dedicados ao mal: conhecer suas artimanhas é tornar-se forte para combatê-los. Penetre na dimensão dos dragões e descubra sua ação na política, na economia, na imprensa, por meio de agêneres e intricados artifícios. Lado a lado com os guardiões, representantes da justiça divina, desvende essa trama de implicações mundiais e venha fazer luz sobre as trevas.

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Além da Matéria - Apresentação do Workshop A Marca da Besta / A Figura dos Dragões - Gravado em 04 setembro de 2010 na Sociedade Espírita Everilda Batista /MG